dezembro 05, 2011

Mal-Caráter, O Conto

Introdução


O Conto Mal-Caráter além de proporcionar diversão aos leitores, tem como intenção expor de uma forma descontraída e um pouco revoltada, alguns fatos da nossa vida cotidiana. É para relaxar e refletir.
Não teria como definir seu estilo, tem um pouco de tudo no decorrer do conto, mas oque mais predomina é o romance, com certeza. É sim baseado em fatos reais, mas somente baseado, o conto está tão fictício que somente quem conhece minha vida saberia distinguir quando tem traços da realidade.
Débora é uma versão minha, só que com seus defeitos claramente ampliados. Não é nenhum conto de fadas irreal, na verdade alguns podem gostar por se identificarem com algumas partes, enquanto outros não gostem exatamente por isto.
Acima de tudo desejo diversão à todos, e fiquem à vontade para comentarem e darem sugestões.

Personagens
Débora: Protagonista, e quem narra a história. Sua forma de viver e reagir aos atos dos outros muda conforme o tempo, mas o seu caráter continua intacto. Egoísta, egocêntrica e fria.
Márcia: Uma das únicas amigas de Débora, sua conselheira e cumplice, também é quem melhor a conhece.
Vitória: Garota com quem Débora se envolve. A nerd sem vida própria.
Cristina: Não aparece no começo. Ajuda Débora a enfrentar seus medos.


Ao decorrer do conto irão surgir outros personagens menores que não precisam de definição.
As frases entre “parenteses” são os pensamentos de Débora.

- Eu sei o que disse, é o meu roteirinho. Gostou? - Olhei para o despertador. - Agora… vá embora, por favor!
A moça de cabelo curto e descendente asiática se levantou com muita raiva - Por quê?
Analisei a cituação e falei calmamente - Não vai chorar ou avançar em mim, para enfim, começarmos tudo novamente?
Ela olhou indignada - Você é louca ou o que? Acha que sou idiota, só pode! - Vestiu-se rapidamente e saiu.
“Pelo menos assim ela foi embora”. Sorri e dormi.

Aquele dia inteiro foi chato, tanto que resolvi sair com minha amiga.
- Márcia, tem certeza que essa é a boate mais badalada?
Quase bêbada ela respondeu - É lógico!
Ela é uma ótima amiga, quando não bebe.
- Essa festa está uma droga! - Gritei.
Enquanto me dirigia para a saída uma moça me segurou pelo braço - Concordo com você - Ela sorriu.
“Ela está afim de mim e não estou com paciência para isso hoje, vou ser estúpida mesmo”
Retirei a mão dela de mim - Só por que concorda comigo acha que vou sair daqui feliz? Sei lá qual suas intenções, a minha é ficar longe de você - Saí e a deixei com raiva, como sempre meu dom é deixar raiva por onde passo, já me acostumei.

- Por que você sumiu da festa? Tava tão bom ontem.
- Para com os papinhos Márcia, aquilo tava horrível.
Pedi mais um chop ao garçom.
- Vou nem falar nada. Te conheço a muito tempo e sei que você não está bem. Se você não está bem, tudo ao seu redor também não está bem.
“Talvez seja por isso que as coisas são fáceis para mim”. Me fingi de burra, como de costume - Como assim?
- Ah sei lá, fica um clima pesado só de você chegar.
- Ah! Disso que você ta falando? Bobeira.
- Bobeira nada - disse ela pegando o chop - Você precisa de companhia.
Eu ia falar, mas ela me interrompeu - Companhia de verdade! Como pode chamar essas vagabundas de companhia?
Me calei, odiava admitir, Márcia estava certa.
Acenei e pedi mais um chop.
- Você bebe tão rápido que nem vejo - Rimos juntas.

Depois nada aconteceu de bom naquela semana, Márcia me apresentou 3 amigas, mas não gostei disso e acabamos brigando.
Cada dia mais eu pensava na idéia de ter alguém ao meu lado, que me pertencesse mais que uma simples noite. Resolvi que iria mudar, sabia que não conseguiria alguém decente com aquelas atitudes, e fingir era comigo mesmo.

Conquistei amizade de uma colega da faculdade. “Ela é tão inteligente e centrada, com certeza não terá tempo para pensar em traição”
- Oi Vi! - Sentei ao lado dela e sorri, as vezes me sentia idiota por agir tão dócil.
- Debinha! Fez o trabalho?
A minha cara de espanto revelou que não, na verdade eu não sabia de trabalho algum.
Ela disse - É brincadeira! HAHAHA
Dei um sorriso singelo e passei a prestar atenção no professor.
“Que garota idiota! Acha que é legal ficar me enganando? Odeio ser enganada. To aturando tudo isso só para conquistar essa nerd, aff, vontade de desistir e dar o maior gelo nela.” Como sempre, meus pensamentos não viram atitude, na verdade geralmente ajo contra eles. Estranho, eu sei.
Ainda estava brigada com Márcia, odiava meu orgulho, sempre me trazia problemas. Doeu, mas deixei-o de lado, liguei para ela assim que acabou a aula.
- Não me faça pedir desculpas, já estou lhe ligando…
- Você está evoluindo, ou isso é um milagre?
- Er…
- Desculpas aceitas, mas antes de me deixar sem carona, pensa na amiga que sou para você.
- Beleza! Estou indo para casa, sairemos mais tarde?
- Claro.

Ela disse aquilo porque na noite que brigamos eu a levaria para casa, mas acabei deixando-a sozinha.


Estava pronta para sair com Márcia quando Vitória me ligou:
- Oi Débinha!
- Oi Vi!
Silêncio…
Arrisquei falar algo - Tudo bem? - “tudo bem? de tudo que poderia dizer, falo logo tudo bem? que idiota que sou”
- Uhum, eu queria te convidar para jantar comigo em um restaurante chines.
“Comida chinesa? Éca!” - Claro, eu adoraria!
- Te busco as 21hs
Ah que droga! Agora vou ter que cancelar de sair com a Márcia e ainda trocar de roupa.

O jantar foi horrível, eu queria animação, mas acho que fingi o suficiente para ela pensar que gostei.
Saímos mais duas vezes (todas jantares idiotas) e na terceira vez acabou na minha cama.
“O que a gente faz depois que termina?”
Acordei de manhã ela ainda estava ali, no meu lado dormindo. Me assustei, tive medo, comecei a me sentir presa, nunca havia ficado tanto tempo com alguém. Liguei para Márcia; ela foi logo dizendo:
- Já partiu o coração da Vi?
- Quê? - falei baixinho para não acordar Vitória e fui para a sala. - Não Márcia, ela ta aqui, dormindo.
- Sério? - ela realmente se assustou - Então parabéns, está fazendo tudo certo.
- É, mas você me conhece, não gosto do certo.
- Tadinha de você, tão assustada, parece uma criança perdida… você vai se acostumar.
- Ta bom…

O tempo foi passando e começamos a namorar. Estava gostando de tudo aquilo, a Vi era bacana, só me irritava as vezes.
De vez em quando algumas garotas que eu saia antigamente me ligavam e claro que eu não perdia a oportunidade.
Não sentia remorso nem pena da Vitória, e a Márcia sabia de tudo e só dizia - Pobre Vi, é tão boazinha para você.
Eu respondia - Vai saber… - Mas tinha a certeza que ela era uma santa.
Aquela relação me fazia bem, eu saia com todos e tinha a Vi para mim. Perfeito.
Completamos dois meses de namoro, eu confiava na Vitória, e jamais desconfiei que ela soubesse de meus rolos, e esse foi meu maior erro.
Márcia viu a Vi beijando uma professora da faculdade e foi logo me contar.
- Que vadia! - Gritei
- É, o que vai fazer agora? Você a traiu também
- É diferente Márcia, todo mundo sabe que eu não presto, era como se ela já estivesse avisada. Agora ela? Com aquela coisinha de santinha! Isso é jogo sujo.
- Calma Débora, termina então e volta à vida antiga.
- Não mesmo, essa desgraçada vai me pagar.

No dia seguinta vi a Vitória, iria fingir que não sabia de nada, mas ela chegou e disse que precisavamos conversar.
Sim, a filha da mãe terminou comigo. Como eu sempre fingi ser dócil com ela, não queria estragar o disfarce - Se você acha melhor assim… mas eu ainda vou te amar.
“Vou amar droga nenhuma, que ela pegue uma gonorréia dessa professorinha”

Na mesma noite saí para encher a cara. Eu achava que estava bem, que aquilo não me afetaria, mas depois daquilo tudo virei uma bebum, fumante e altamente complexada comigo mesma. Eu dizia para todos que estava bem enquanto minhas atitudes diziam o contrário.
- Cansei de mulher.
Márcia riu - Você está bêbada.
- Cansei! Vou ser freira, mulher não sabe amar.
- Então muda de time
- Vou ser freira, já disse.

A vida passava inutilmente por mim. Dia após dia, um sufoco infernal. Quando comecei a me recuperar e me achar bonita novamente, Vitória reaparece na minha vida.


- Odeio dizer, mas sabia que ela ia se arrepender
- Mulheres…
- É Márcia, estou na ativa denovo.
- Nem dê moral para a Vi

Teoricamente eu não daria moral, mas na prática é sempre mais difícil e acabei perdoando-a por me trocar. Foi fácil, afinal eu havia traido muito mais, me sentia por cima novamente. Começamos a ficar.

- Não acredito!
- Ela mudou, eu sinto
- Sente? Vai sentir os chifres depois.
- Cala a boca, Márcia!
Eu não queria, mas estava apaixonada por ela. Rolou uns boatos que ela estava ficando com outras além de mim, eu havia me aquietado, cansado daquela disputa de quem traia mais.

Por insistência da Márcia, fui em uma festinha na casa dela. Conheci muita gente bacana e tinha um rapaz muito charmoso.
- Que se foda! Vou mesmo ficar com ele
- Calma Débora, você está bêbada
- E daí?
- Você vai reclamar e me culpar… - Márcia mau terminou de falar e eu já estava lá, beijando o garoto.

Passei o outro dia chorando, e como a Márcia havia dito, culpando ela.
- Débora pode parar! Você gostou que eu vi.
- Eu sei… é coisa minha. Você não entenderia, adora homens, mas eu preferia que não tivesse acontecido.
- Só que aconteceu, e pronto. Chega de resmungar e vai viver um pouco.
Estava jogada no sofá da Márcia, era 16hs e não havia trocado de roupa nem feito nada de útil, apenas assistindo TV.
*DIt! DIt! DIt!*
- Não tinha um interfone pior? - resmunguei
- É triste como você só sabe reclamar.

Márcia abriu a porta e recebeu uma moça, me apresentou, chamada Cristina.
Ela já havia me contado umas histórias sobre essa Cristina, e parecia que ela não gostava de homens e recém tinha saído de um péssimo relacionamento, quase na mesma situação que eu.

Continuei vendo TV, e as duas foram conversar na cozinha.
Elas riam tanto que fiquei curiosa, tomei um banho e como quem não queria nada, fui lá. Peguei um copo de leite e fiquei enrolando. Elas perceberam e pediram para mim sentar. Cristina estava bem aparentemente. Muito linda e misteriosa. Conversamos até as 19hs e depois fui para casa.

Era triste ter que ir para a faculdade, eu via e conversava com a Vitória, ela me fazia promessas de amor e saiamos. Eu sabia que ela não gostava de mim e era tudo ilusão, porém eu estava fraca de mais para dar um fora nela. A situação não estava boa, me desgastava. O amor e carinho que queria nela tinha que procurar em outras.
Comecei novamente a fumar frenéticamente, pelo menos me acalmava.

Márcia dizia que tinha uma ‘química’ entre eu e Cristina. Bobeira dela, se bem que uma ‘física’ eu adoraria que acontecesse, ela era encantadora.
Viramos amigas e começamos a ficar, Márcia se sentia um cupido, porém eu estava magoada de mais, só queria curtir.
Cristina me tratava diferente, me sentia importante perto dela.

Aos poucos fui deixando de sair com outras garotas, até que fiquei só com Vitória e Cristina.


O bom de estar com a Cris era a liberdade que eu tinha em ser eu mesma. Continuava ficando com a Vi por miseravelmente gostar dela. Cris ficava comigo, e com a ex geralmente quando eu sumia e dava uma de insensível.
Essas minhas atitudes orgulhosas nunca me levaram a lado algum, mas era mais forte que eu, parte do meu mal-caráter.
Cristina só conhecia minha vida a partir de quando comecei a ficar com Vi, foi tudo o que contei para ela. A pesar de achar bom enquanto durou, meus tempos de canalha haviam acabado, e se não falasse sobre isso não seria relembrado e aos poucos deixaria de existir.

Comecei a me importar com Cris, a confiar nela (para contar segredos, não fidelidade) e surpreendentemente… gostar.
“Droga, gostar!” Isso realmente me assustava, gostar é o mesmo que tomar a pessoa para si e tudo o que ela faz começa a afetar você, nesse caso à mim, e ela ainda ficava com a ex dela, resumindo, eu iria sofrer.
Como boa pessoa egoísta que sou, preferi me afastar da Cris, deixei meu coração de lado e segui a lógica.
O coração só havia me ferrado, a lógica não poderia ser pior.
Ficamos duas semanas sem nos falar, senti falta, nós nos viamos todos os dias.
Parei também de ficar com Vitória, havia cansado de ser a última opção dela. Sai com Márcia e revivi os velhos tempos, a canalha.

No dia seguinte, com uma enorme ressaca vejo no meu celular uma mensagem. Era da Cris, perguntando por que eu havia sumido.
Quis não esboçar nenhuma reação, mas não fui capaz. Meu coração acelerou e mesmo não querendo fazer nada liguei para ela e marcamos de sair eu, ela e Márcia.
Assim voltamos a nos falar, ela havia brigado de vez com a ex dela por simplesmente não querer voltar a namorar, também fez muitas perguntas de porque eu havia sumido e eu respondia que precisava de um tempo para me organizar. Márcia, que sabia de tudo, apenas ficava ouvindo a conversa.

Como antes, voltamos a nos ver todos os dias depois da faculdade, e quando não tinha compromissos saíamos juntas.
Não tinhamos nenhum relacionamento sério, mesmo assim eu não gostava de ficar com ninguém na frente dela, e ela do mesmo modo, e como eu só saia com ela, acabou que ficava sem ninguém, só com a Cris. No começo foi encômodo, mas depois comecei a achar legal e por último já não me via com outra pessoa além dela, e foi aí que me assustei.
“Me deixei envolver tanto por esta amizade colorida que acabei deixando de controlar a situação, tanto que está fora do meu controle e talvez, eu nem quero pensar nisso, mas talvez eu esteja apaixonada” Sim, sentimentos me assustam e me fazem fazer o oposto do que quero.

Vitória ainda estava no meu pé, mas eu já estava decidida, se era para me apaixonar, que fosse então pela pessoa certa. Sei lá se essa pessoa seria a Cris, mas com certeza não seria a Vi, e foi aí que comecei a me afastar dela pra valer, o que me dificultou um pouco na faculdade, pois era com ela que fazia as provas em dupla e a maioria dos trabalhos.

- Precisamos conversar - disse Cris, num ar de mistério
- Não tenho boas lembranças dessa frase, fala logo o que você quer
- Só quero conversar
- Tudo bem
Nos encontramos no parque e sentamos no banco que dava de frente ao pôr-do-sol, uma imagem linda e romântica.
- Tantos anos morando aqui e nunca havia vindo neste lugar - disse admirando tudo.
Cris tirou uma aliança do bolso do casaco (estava muito frio), colocou entre minhas mãos e perguntou; - O que me diria se eu quisesse aprofundar nossa relação?
“Relação? Que relação? Temos uma amizade colorida, só isso… Ta, estou chocada, admito”.
Eram tantos pensamentos em minha cabeça que não consegui dizer nada, apenas a olhei sorrindo e segurei a mão dela e a aliança firmemente.


“Como eu queria poder parar o tempo e pensar com calma… Não quero perder a Cris, e talvez ela esteja certa, está mesmo na hora de dar um passo à frente.” Ela estava me olhando e esperando uma resposta já havia alguns segundos, resolvi agir e disse: - Claro, por que não néh?
Ela sorriu aliviada e me beijou ali mesmo. Recebemos muitos olhares estranhos, aquilo era um parque, haviam crianças… eu não gostava de agir assim, mas era um momento especial, então tudo bem.

Nosso namoro estava indo tão rápido, e quase nada mudou, a não ser as crises de ciumes tanto dela quanto minha, pois uma pertencia a outra, então eu podia mesmo ter ciumes até de uma pedra que ela ficasse observando muito tempo. Claro que eu não era assim, ou talvez fosse.
Quando percebemos estavamos namorando a quase um ano e era tudo novidade para mim, minha primeira relação super firme e que estava levando a sério. Já havia perdido toda consideração e fama que tinha conquistado entre meus companheiro de festa, a canalha havia mesmo morrido e essas coisas a Cris nunca soube, graças a Deus.
Fazia algum tempo que eu não falava com Márcia, uns três meses mais ou menos. Havia me focado tanto em fazer um ano de namoro que tinha esquecido do resto.
Quando corri atrás de saber dela, ela estava se organizando para viajar com a família.

- Ta, mas é só uma viagem néh? Você volta depois? Tipo… férias! - eu disse brincando
- Bem que eu gostaria, mas não, meu pai ganhou um cargo melhor no trabalho, você me entende - respondeu Márcia, um pouco chateada
- Claro que eu não entendo! Sabe o que eu entendo? Que você vai me deixar aqui nessa cidade sozinha! Você sabe, é minha melhor amiga, não pode, repito NÃO PODE me deixar sozinha.
- Primeiro que eu não tenho escolha, segundo que não vou te deixar sozinha, está em ótima companhia com a Cris, e você passou três meses sem mim, você é mais forte do que imagina.
- Então pega suas coisas e esses seus consolos fajutos e vai embora mesmo, nem sei porque vim aqui, tem razão, três meses sem você foi moleza! - “se tivesse sido tão fácil como você acha, eu nem teria vindo aqui, idiota”

Saí de lá puta da vida, fui na casa da Cris e chorei no ombro dela. Ela se assustou muito, pois minha mãe adorava comentar que eu era tão fria que não havia chorado nem no enterro do meu irmão. Até que era verdade, mas sei lá, foi o estresse da briga que me deixou um pouco descontrolada, e não a perca da Márcia em si.

Márcia havia se mudado tinha uma semana, ela partiu e nem nos despedimos, continuamos brigadas, mas eu não deixava isso ocupar minha mente, estava me focando na festa de um ano com a Cris. Convidei meus parentes, alguns colegas da faculdade e fiz questão de convidar Vitória, ainda queria vingança. A Cris convidou muitos amigos e apenas a irmã dela, o resto da família não gostava nem de lembrar que ela era apaixonada por outra garota, minha família pelo contrário era super liberal, com exessão do meu avô. Claro que a Cris não sabia que eu tinha convidado a Vitória.
A Vi nem imaginava que eu ainda tinha raiva dela, eu a tratava normalmente quando nos esbarravamos pelos corredores, não estudávamos mais na mesma sala, o que foi bem melhor para mim.

O dia da festa havia chegado.
Tudo pronto e perfeito na minha casa, os convidados chegando e tudo o mais. Todos nos saudando e parabenizando.
Estava gostando muito do carinho de todos, mas me sentia um pouco deslocada, pois a maioria eram conhecidos da Cris, pelo menos ela estava feliz.
No começo da festa aparece Vitória com um amigo, nem preciso dizer que a Cris pirou, me puxou para um canto e começou a perguntar o que ela estava fazendo ali.


Como a maior inocente do mundo disse que não fazia a menor idéia, mas iria resolver tudo em breve.
Saudei Vitória e seu amigo, e o deixei à vontade nas bebidas, ele tinha cara de quem gostava de beber. Disse para a Vi que precisavamos conversar e a chamei para dentro da casa. Servi uma caipirinha e dei à ela, e começamos a conversar sobre o dia a dia, até que na segunda caipirinha ela perguntou o que era que eu precisava conversar, mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa ela foi no banheiro, aproveitei o momento e coloquei sonífero na bebida dela, quando ela voltou continuou a beber e eu saí de lá, voltei para a festa, ao lado de Cris e cochichei:
- A Vi já foi embora, problema resolvido

Enquanto a festa rolava, dois amigos meus pegaram o corpo da Vi, que estava com tanto sono que não entendia nada, e levaram na caminhonete para longe dali, jogaram no meio de um bosque, e logo após me mandaram a msg: ‘Trabalho feito’ .

A festa foi ótima, e o amigo da Vi fez amigos por lá e encheu tanto a cara que nem se lembrou dela.
No dia seguinte deu notícia no jornal local que uma pessoa havia sido comida por lobos e ficou irreconhecível; passaram alguns meses e como Vitória havia sumido no mesmo tempo, resolveram ligar os pontos.
Eu e os participantes da festa fomos interrogados diversas vezes, e a principal suspeita era eu.
- Droga, dei muito na cara!
Cris já havia se acostumado com a idéia, acho que só ficou furiosa no começo por eu ter bolado o plano sozinha.
- Se esforce mais, porque se você for presa, eu também vou por ocultar informações.
- Cris meu amorzinho, como eles vão saber que lhe contei? Só se você contar…
- É, tem razão.

Todas as noites eu sonhava com a Vi, as vezes ela estava sorrindo e feliz, as vezes ela estava muito triste e desesperada.
“Nem gosto de imaginar pelo o que ela passou. Nem sei ao certo porque fiz aquilo, mereço mesmo um castigo.”

- Vou me entregar amanhã, finga estar surpresa e vamos aproveitar o dia de hoje.
- Ficou louca?
- Relaxa, não vou colocar ninguém no meio, até reescrevi a história.
- Débora isso é idiotice - disse Cris, já alterada - Os advogados estão fazendo um ótimo trabalho.
- Sinto que preciso de punição
- Nenhuma punição apagaria o que você fez, você tem que se manter viva.
- Eu deveria ter pensado nas consequências
- Também acho
Olhei triste para o chão - Você tem raiva de mim pelo o que fiz.
- Um pouco de medo também
- Medo? Você é a Cris, ela a Vitória, tem toda diferença! Não acredito que me compare com essas pessoas que matam por matar.
- Você vive falando que não sabe o motivo! - Gritou Cris
- Cala a Boca Cristiane, e pare de gritar comigo - Falei num tom firme e sai dali.
“Ela tem razão… e agora?”


Nem aproveitamos o dia, estávamos brigadas.
Descobri que ela tinha medo e raiva de mim. “Merecia ir presa também, mas eu a amo, fazer o que.”
Me entreguei à policia, contei que havia feito Vitória dormir, carregado-a (sozinha) até meu carro e levado seu corpo para o bosque. Duas horas depois havia voltado para a festa (foi o tempo que fiquei conversando sozinha com ela). Tudo se encaixou e ninguém, além de mim, saiu prejudicado.
Peguei seis anos de prisão por ter me entregado e declarado que apenas queria assustá-la, e não fazia idéia que haviam animais selvagens por ali.
Meu advogado conseguiu reduzir para quatro anos, e se tivesse um bom comportamento, poderia sair em um ano e quatro meses, e depois somente dormiria na prisão.

“Depois que eu e Cris completamos um ano de namoro e ela descobriu do homicídio, nossa relação foi de mau a pior.
Poxa Márcia, não sei o que tive na cabeça, mas achei que ela ficaria feliz em saber que a pessoa que ela odiava, jamais iria interferir novamente.
Só que foi o contrário, Cada segundo que se passava Vitória parecia mais presente entre a gente, e as brigas aumentavam.
Quando vim presa, Cris me visitou uma vez, foi triste.
Tudo o que faço aqui é escrever, apanhar e ser assediada, é tão escuro e tem um cheiro horrível, como o inferno eu acho. Pelo menos Vitória parou de me perturbar.
Faltam apenas dois meses e eu posso sair por bom comportamento, mas ainda vou ter que dormir aqui e talvez fazer alguns serviçoes comunitários.
Sabia que jamais vou poder me aposentar? É lei.
Desculpa ter sumido esse tempo todo.
Abraços,
Débora”

Um mês depois recebo duas cartas; abri uma;
“Débora,
Confesso que nem acreditei quando li sua carta, nem sabia se ainda estava viva. Antes presa do que morta, não é mesmo?
Não sei porque, mas não me surpreendi quando vi seu rosto na televisão sendo presa por um assassinato, você sempre foi doidona, era de se esperar.
Agora falando de mim, estou casada e grávida de sete meses, é um garoto.
Conheci meu marido logo após que me mudei, namoramos seis meses e depois noivamos. Ele é um amor de pessoa e está muito empolgado em ser papai.
Não leve a mau, mas não acho bom você se envolver com minha família, está tudo tão bem agora, e você sempre atrai coisas ruins.
Espero que fique livre logo.
Cuide-se,
Márcia”.

Resumindo, perdi a amiga para a droga do amor, pelo menos apareci na televisão, apesar que isso significa que vou ter que mudar o visual.

A outra carta me parecia familiar antes mesmo de abrir;
“Não estou com raiva por você ter sumido, com isso já me acostumei, o que não admito é deixar sua mãe saber que foi presa através de uma notícia no jornal da TV. Achei que fosse me procurar, mas já que não veio, eu vou.
Se prepare para minha visita no dia 14”.

Não conseguia acreditar, minha mãe?
Quase três anos sem contato algum e ela resolve aparecer? Minha vida acabou.

Dia 14 lá estava eu, presa, quando chega minha mãe. Apesar de estar na casa dos quarenta, continuava linda e sedutora, sempre de batom vermelho.
Com aquele ar de superior, ela disse;
- Conheço a filha que tenho, infelizmente. Você é um desgosto para sua família, puxou ao seu pai, aquele canalha. E não serve nem para matar alguém e sair ilesa?
Tentei me justificar, mas ela me fitou com os olhos e prosseguiu falando - Mas não foi para isso que vim aqui, quero lhe propor sua liberdade e mais um dinheirinho extra…
“Minha mãe querendo negociar? Quero nem ver”


Minha mãe continuou falando - …em troca de você sumir deste país, trocar de vida e manter contato mensalmente comigo. - Inclinou-se na cadeira, aproximando do vidro que nos separava - É melhor do que eu pedir que pare de fazer besteiras, até porque sei que isso nunca vai acontecer.
- É uma boa proposta, trocar de vida, mudar de país e ainda lhe aturar somente uma vez ao mês, mas como vou me manter por lá sem um emprego? Por incrível que pareça, aqui na cadeia estou segura.
É claro que eu odiava ficar presa, mas não podia demonstrar isso à minha mãe, e eu sabia que se a expremesse ganharia mais coisas, afinal ela não fazia isso por amor, e sim pela campanha eleitoral dela.
- Não seja boba, o contato mensal servirá para você ganhar o seu salário como boa filha, e como sei que não confia em mim, vou lhe dar um cargo razoável em uma das empresas do Chile.
- Chile? Acha que vou para o Chile?
- É onde posso garantir que você viva bem.
- É onde você garante que a mídia não vai me pegar. Eu sou boa no que faço, posso até continuar vivendo no Brasil sem saberem que sou eu.
- Tão boa que está onde está. No Brasil não.
- Escuta mãe, eu me rendi, me entreguei…
- De idiota que foi. Alemanha está bom para você?
- Não sei alemão
- Você é inteligente… apesar de tudo.

Minha mãe não se importava com eu ter matado alguém, mas sim em ter sido pega pela justiça, era tão orgulhosa quanto eu, e sentia seu ego ferido ao saber que fui derrubada.
- Se é para mudar de vida, então que seja drásticamente… Quero morar em uma fazenda, na Alemanha.
- Melhor ainda - disse minha mãe, sorrindo vagarosamente
- Foi bom negociar com você

A visita acabou, no dia seguinte minha mãe me ligou.
Eu não queria ficar mais uns meses dormindo na prisão e fazendo trabalho comunitário, então troquei meus advogados pelos que minha mãe havia enviado. Fizeram um acordo, eu ficaria mais seis meses e depois poderia sair.
- Não era bem o que eu queria, mas já ta bom.
- Se você tivesse me avisando antes, não tinha passado de oito meses aí.
- Ta bom mãe…

Seis meses depois estava eu saindo da cadeia. Confesso que um ano e oito meses me fizeram desacostumar com tudo, sorte que iria morar na tranquilidade da fazenda.
Me sentia sozinha, minha família cheia de julgamentos contra mim, minha mãe interesseira, e meu pai era como eu, mas acho que pior, havia sumido há 5 anos. Estava sem Márcia, Vitória ou Cristina e recomeçaria sozinha, do zero, fingindo ser outra pessoa.
Com tudo o que sofri até aqui, espero ter aprendido algo, e que venha o recomeço.

Despedida
A Fic Mal-Caráter termina por aqui, mas dá continuidade para a Fic Recomeço, espero que tenham se divertido.

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